Pedagogia: minha escolha feliz!

"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos". (Exupéry).
Quando se educa com amor, tudo torna-se mais fácil, verdadeiro e feliz!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Madalena Freire

Aqui estão alguns trechos importantes da palestra da Madalena Freire, em 2008, sobre a aprendizagem em geral.
Eu anotei, porque parafraseando a autora, "memória é registro".




Madalena Freire

Maria Madalena Costa Freire é filha do educador Paulo Freire. Formada em Pedagogia, dedica-se desde 1981 à formação de educadores com grupos de reflexão e estudo. Sócia-fundadora e docente do Espaço Pedagógico presta assessoria a instituições públicas e particulares.


A pedagoga é autora dos livros Sala de Aula - Que Espaço é Esse? (Papirus, 1986) e A Paixão de Conhecer o Mundo (Paz e Terra, 1982), além de artigos e organizações de publicações, como Instrumentos Medotológicos I e II.

A seguir, os principais tópicos abordados por Madalena Freire :

Sobre o educador – Para Madalena Freire, não há distinção entre educador e professor. Ela diz que “educador é todo aquele que trava e constrói uma situação educativa; educador é aquele que ensina”.

Quando se refere a ensinar, Madalena procura deixar claro que não está se referindo a uma única concepção, como por exemplo, “daquele que tem o conhecimento para transmiti-lo”.

Para ela, todo educador tem uma sala de aula e, portanto, alunos a quem ensinar. Como ele irá ensinar é que o difere de outras concepções de educador.

A pesquisadora diz acreditar que todo educador lida com sua “direcionalidade”, ou seja, necessita indicar a direção da aula e do ensino em classe. “Nenhum educador se safa de ser diretivo, mas isso não quer dizer ser autoritário”, completa.

Por possuir essa direcionalidade, ao assumir a sala de aula, todo educador precisa obrigatoriamente ter um planejamento. Esse planejamento, explica a palestrante, retrata a concepção de ensino do educador e a reação dos alunos. “O termômetro para saber se o planejamento está alienado às características do grupo é a indisciplina.” Para ela, o planejamento retrata a forma como o educador encara o ensino, como ele acredita que se dá a aprendizagem.

Formas de fazer o planejamento:

A educadora apresenta três formas de realizar e apresentar o planejamento:

1) Autoritária – Pautada na idéia de que o conhecimento se dá pela transmissão daquele que sabe mais para o que sabe menos. Neste caso, o planejamento do professor não pode ser questionado, é centralizador e autoritário. Não precisa levar em conta o grupo, mas sim aquilo que se quer que aprendam. É um planejamento centralizado nos desejos e características do professor.

“Dentro dessa concepção, basta um planejamento e, se ele não der certo, a culpa é do aluno, da família ou de qualquer um, menos do professor. Nessa forma do educador atuar, não há espaço para questionamento. Ele dita e a turma copia. É um planejamento para ser seguido e fim.”

2) Processual – Há outra concepção que acredita que a outra pessoa envolvida no processo educativo tem capacidade de pensar e construir sua consciência, seu conhecimento. Muita gente vive alienada de sua criatividade e autoria, distante de seus sonhos e sabedoria. Essa forma de planejar busca o resgate do sujeito e seu comprometimento com a própria aprendizagem.

Nesse caso, o educador entende que o conhecimento não é um só (apenas do professor) e, conseqüentemente, não é possível haver apenas um plano. “O educador está lá para ensinar sem o conteúdo da matéria.”

O problema na aplicação deste conceito, segundo a educadora, foi: “A envergadura da vara, a passagem do oito para o oitenta; com medo de ser taxado de autoritário o educador perde sua intencionalidade, sua responsabilidade, enfim, seu papel de autor do processo.” Este extremo também é questionável, pois, dessa forma, passou-se a valorizar apenas o processo, apenas o produto.”

3) Conquistada – Para Madalena Freire, esta é a mais sensata das maneiras de se elaborar um planejamento de aula. O educador deve construir o conhecimento e coordenar os diferentes saberes. O educando, neste caso, é visto como alguém que já possui conhecimentos anteriores e adquiridos fora da escola.

Esses conhecimentos são valorizados e a educação reconhecida como uma construção que se dá a partir da diferença dos saberes. “Os novos conhecimentos emergem dessa interação. É quando surge algo que não se conhece. Só pode emergir o conhecimento a partir do conflito, da socialização dos saberes. O conhecimento emerge do confronto de diferentes saberes.”

Nessa concepção, afirma a palestrante, o planejamento considera que a matéria prima do educador não é o conteúdo da matéria, mas a pessoa humana com seus conhecimentos.

Em tempos de globalização, diz Madalena, a pessoa humana é banalizada, considerada descartável. As pessoas andam mais próximas da Índia que de sua própria rua. “Não vale a cabeça cheia, mas a cabeça bem feita”, diz.

O conteúdo da matéria é a busca pelo conhecimento. O ensinar não é dar aula, mas construir a aula. Não se trata de ser igual ao aluno, pois o educador sabe mais, domina o conteúdo da matéria. Ele precisa ter esse conhecimento para planejar e intervir na construção do conhecimento.

Nessa concepção, reforça a palestrante, planejar é criar hipóteses porque grupo vive em constante mudança, nunca é o mesmo. Quem manda copiar, “está estagnado como múmia que, de tanto reproduzir, se petrificou”, ela acentua.

A construção do conhecimento tem de ser gestada e parida. O planejamento deve ser uma hipótese que abre possibilidades, até de não acontecer nada. O educador deve trabalhar com pelo menos duas hipóteses para cada situação que irá propor. Precisa estar pronto para seguir um caminho a partir da reação dos alunos, sem ser estático e engessado, mumificado. O grupo representa uma complexidade de conhecimentos. Travar relacionamento com outros saberes é o que constrói uma situação educativa.



Liberdade - Madalena defende a idéia de que todo educador em sua sala de aula é responsável pelo bem comum da turma. “A liberdade não é individual, ela deve ser para todos. Não adianta a liberdade de um atingir os direitos de todos os outros membros da situação educativa. O educador tem de zelar pelo bem comum.”

A construção do conhecimento, explica a palestrante, está relacionada com rigor. Sem disciplina, ela diz, não se concebe a ciência do fazer. “Toda pedagogia tem metodologia.”



Esses conceitos andam aliados ao planejamento e ao registro. “É necessário que haja um planejamento definindo a construção da aula, por onde o professor irá andar. O professor deve ser co-autor dessa construção junto com os estudantes. Isso deve acontecer mesmo no ensino infantil, com crianças de 2, 3 , 4 anos.”


Para a palestrante, o comportamento do aluno é fruto da crise ética da sociedade. “A criança chega à escola sem ter uma ética primária, boa educação, bons modos, sem saber dizer ‘por favor’, ‘obrigado’, ‘com licença’. Os valores estão em falta, foram jogados fora. A escola precisa ser modelo e espaço de ética. Educadores são modelos, então precisam tomar cuidado em como exercitar sua sua autoridade, seu poder.”

Essa falta de postura também atinge os educadores. Madalena ressalta que quando a professora está na escola não pode se portar da mesma forma que em casa. “Ela tem trabalhos e responsabilidade. A antropóloga Hanna Arendt diz que somos modelos de que a vida vale a pena. Outro teórico, o sociólogo francês René Lourau, diz que a ética é planetária, portanto somos todos responsáveis por ela, em qualquer espaço ou situação.”

Testemunho e modelo - O professor, afirma a educadora Madalena Freire, precisa ser um modelo, mas nem sempre sabe exatamente como agir ou qual modelo deve adotar. Com isso surgem diferentes concepções de atuação em sala de aula.

Numa relação autoritária esse poder está centralizado no modelo do educador. Numa concepção espontaneista, explica Madalena, o educador é um autoritário disfarçado, pois, com medo de repetir o modelo anterior, centraliza as decisões não em si, mas no aluno. Isso significa o abandono do acompanhamento. O educador não sabe o que precisa fazer. “Quando o educador tem medo de assumir o modelo para ser inspirador ao invés de ditador, ele cede ao autoritarismo.”

“O espontaneista tem tanto medo do autoritarismo que se transforma em autoritário por abandonar o aluno ao próprio destino.”

A educadora cita o bielo-russo Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) para explicar que o aluno sozinho não aprende, “pois dessa forma só fica na zona de conhecimento real, ou seja, naquilo que ele já sabe, já conhece. A aprendizagem se dá quando é atingida a zona proximal de conhecimento. Para isso o aluno precisa do outro que sabe mais”, explica.

Dessa forma, o grande desafio é o exercício de liberdade com os outros. “A busca é por uma relação libertadora na qual o aluno é modelo, o educador é modelo, o grupo é modelo e todos exercitam poder e autoridade.”

Só que são poderes e autoridades diferentes. Para atingir essa meta, a grande ferramenta é a observação.

Observação – Para Madalena, a observação é a base do trabalho do educador, pois mostra o que há por trás, qual o conteúdo que há em determinada atitude ou movimento, em qual concepção se embasa.

Para ela, a observação tem que ter foco, objetivo. “Tem que haver um ponto para ser olhado, perseguido, pois é um momento de estudo e reflexão sobre a prática. Essa reflexão precisa ser guiada. Só se aprende com o que se faz, quando há sentido e significado na observação da prática. Para isso, o professor precisa estar atento aos erros e acertos que comete na situação de ensino e aprendizagem. Não basta uma observação intuitiva. Ela deve ter foco.”

Foco - O primeiro alvo é o corpo do aluno: como ele se porta, como se manifesta e como recebe o planejamento a ele passado. Essa observação é um momento de reflexão e estudo. “É uma avaliação constante do grupo e da própria prática.” O educador, ensina Madalena, deve ter consciência que o ser humano está em constante mudança. Não deve restringir sua observação ao que sabe e conhece. Precisa estar disposto a buscar, assumir, sua competência pedagógica para ser modelo e construir sua autoridade. A observação é um objeto de estudo que leva a essa competência e que caminha lado a lado com o registro.

“Registro é memória, é história, sem ele vive-se apenas de lembranças, que se esvaem, perdem-se”

Registro – Como a observação em classe é pontual, a educadora destaca a importância do registro como um artifício fundamental para não perdê-la. Para ela a observação caminha junto o registro.

Registro é memória, é história, sem ele vive-se apenas de lembranças, que se esvaem, perdem-se, pois podem ser esquecidas. “Já a memória e a observação, quando registradas , tornam-se patrimônio. Registro é construção, apuramento do pensar reflexivo.” Aqui o coordenador é fundamental, pois é ele quem deve assumir o papel de leitor da prática do professor.

Madalena ressalta que tudo que se repete e não produz mudanças está estereotipado, velho, com falta de conhecimento teórico. “Observação e registro são armas de luta para a construção do educador competente.”

Mudanças – Madalena afirma que os professores são resistentes às mudanças na educação. Mas ela ressalta que não existe aprendizagem que parta do prazer. Resistência é o primeiro movimento da aprendizagem, é o retrato do choque do velho com o novo.

“O ser humano é regido pela sua incompletude. A sensação de falta existencial, a busca por se completar é que impulsiona o desejo, a vontade de fazer algo, de conseguir, de conquistar. Nessa sensação de falta é que vive o sonho.”


Competência – A vida é repleta de problemas com poucos momentos de paz. A vida é um eterno conflito. Ninguém deve ficar aquém da vida, diz Madalena. Todos devem lutar, pois os desejos de vida e morte são passados para o aluno. Dizer para o estudante que ele cresceu é um desejo de vida. Chamá-lo de burro é um desejo de morte. O professor determina o caminho do aluno. “O registro reflexivo é uma arma de luta para a vida. As palavras escritas conceituam o que se pensa e se faz.”

“Cada ser humano – único e diferente – precisa acreditar que possui uma missão. Cada um nasce com uma marca, uma impressão digital. Ela retrata que não existe outro igual, que cada um é único e singular e, por isso, está fadado à diferença. O professor deve se convencer que pode fazer a diferença na hora de ensinar, que pode deixar sua marca como educador e que tem competência para isso.”

Mas o educador necessita possuir energia de transformar e tem de se instrumentalizar para realizar mudanças.

Adquirir competência, diz Madalena Freire, é o foco da formação. Só o próprio educador sabe como está lidando com a sua competência. Ou seja, o professor é o principal responsável por se manter em constante formação e transformação. “Só há mudança com reivindicação, luta, desejo de transformar.”

Acompanhamento - A observação e o registro são armas poderosas de tomada de consciência política e pedagógica dos educadores. Essas ferramentas revelam como anda o ensino e a aprendizagem na sala de aula. “Mas os professores, para saberem como lidar com seus erros e acertos, necessitam de acompanhamento da prática e da teoria.”

Segundo a professora, o desafio e a dificuldade na formação de hoje é fazer com que os professores tenham acompanhamento dentro da escola, alguém que assuma os professores para pensar junto com eles. Alguém que pense diretivamente e que dê voz a eles.

Para ela, todos dentro da escola têm uma classe, um grupo. Diretor, coordenador, assistente pedagógico, têm suas classes, devem assumi-las e ser formadores. A competência do ensinar dentro da escola é de todos. Os horários de estudo, a hora-atividade têm que ser assumidos pelo educador e também por aquele que o forma, com o rigor da disciplina.

“Esses profissionais em cargos de direção precisam assumir que também possuem alunos sob sua responsabilidade. É um grupo diferente, maior, daquele do professor, pois têm 350, 400 alunos para cuidar.”

O professor, continua Madalena, conta com dois grupos: de alunos e de pais. Nenhum professor e nenhuma escola vivem na comunidade sem a comunicação com os pais. Deve-se convencê-los a participar do processo educacional dos filhos, mas convencer no sentido estrito do significado da palavra convencer que quer dizer ‘vencer junto com eles’.

Reuniões - Nas reuniões entre coordenadores, assistentes, diretores e professores há alguns movimentos fundamentais, destaca Madalena Freire:

- Os professores têm que se assumir que são profissionais, que atuam em um espaço público de formação e ética.

- Deve haver a exposição de cada professor sobre suas aulas da semana. Uma exposição clara resumida e contundente, com um olhar realmente reflexivo sobre os fatos que relevantes que ocorreram.

- O professor deve estar disposto a problematizar as questões que merecem atenção, evitando o pacto da mediocridade, da exposição descritiva dos acontecimentos sem qualquer reflexão sobre eles. Só é possível refletir, escrevendo. A reflexão, assim como a observação, pede foco e crivo.

- É preciso ficar claro que aprender não é gostoso. Há resistência. O professor nesse conflito entre novas e antigas idéias, precisa se posicionar, discordar, dizer o que pensa. O educador tem de assumir o confronto para convencer.

O conflito reflexivo deve estar centrado:

• No conteúdo;

• Na aprendizagem do grupo e de seus indivíduos;

• No planejamento das atividades – adequação e inadequação;

• Na avaliação do ato de ensinar, determinar quais situações foram ou não aproveitáveis. Deve haver autocrítica.

• Nas críticas pessoais (qual questão que se coloca no seu ensinar).

• Nas conquistas.


Reflexão – Ainda sobre as reuniões realizadas entre os profissionais da escola, a palestrante falou sobre a importância dos professores refletirem sobre a própria prática. “Esse é um processo de construção, aprimoramento, do estudo, do pensar.”

Para Madalena Freire, o professor deve assumir a exposição da sua reflexão diante dos colegas. “Tudo que o professor percebe como problema, que não consegue resolver, é na verdade falta de luz teórica.”



É fundamental, portanto, que o grupo de professores, diretores, coordenadores e assistentes pedagógicos realizem estudo teórico das falhas identificadas na prática. Esse é o foco da observação e do registro; dar subsídio para que os profissionais busquem soluções teóricas para seus desafios. “A observação e o registro são armas na luta pela construção do educador competente.”

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"Nós costumamos dizer que 'damos aula' e as palavras não são à toa. O professor não dá aula. Ele reproduz conhecimento". Conhecimento que, segundo Madalena, não se aprende só no conteúdo das matérias: "A matéria-prima do educador não é o conhecimento, mas a pessoa humana que conhece."


Não deve ser muito fácil ser filha de Paulo Freire e continuar na profissão de quem foi um dos educadores mais importantes do Brasil. Mas ela mostrou que, além de pai, o pedagogo foi um grande mestre: "só se aprende em comunhão com o outro. O educador é aquele que sabe mais porque é o que tem mais experiência. Mas saber mais não é saber tudo", explica.

Difícil é não se emocionar com as palavras de Madalena. Mais ainda, com seu jeito de falar: gritado, grosso, forte. Em seguida, calmo, baixinho, como se desse um tempo para digerirmos o que era dito. E algumas coisas não são tão simples de digerir: "às vezes, o professor não concorda com medidas adotadas pela escola, mas fica quieto. Escuta tudo o que é dito na reunião e quando sai de lá futrica, fofoca, xinga, fala mal, mas não se assume. É preciso assumir-se. Só ele pode fazer a sua diferença."

Para ela, no sistema educacional brasileiro não existe nenhuma vítima. Nem professor, nem coordenador, nem diretor de ensino. "Tudo é escolha, opção", explica. "Cada um deve perguntar o que quer da vida profissional e no que realmente acredita". E, a partir da resposta, trabalhar por isso.

"Assumir-se, então, significa estar comprometido com sua causa, com o que acredita", conta Madalena. Ao levantar seu dedo indicador, ela começou um jogo de palavras: "nossa impressão digital mostra que somos pessoa única, portanto, fadados à inclusão dos diferentes. Só somos nós mesmos porque nos diferenciamos dos outros. Cada um tem que assumir a sua marca e acredito que as impressões digitais significam que cada um de nós também temos nossas missões, não no sentido religioso da palavra. Missão. A sua missão. Assumissão. Assuma-se". Isso, dito aos berros, pareceu ecoar na razão e na alma dos que estavam presentes.

Duas ou três vezes, Madalena perguntou para a platéia se podia continuar com o tema da aula. Ninguém ousou discordar, mas ela se explicou: "Para cada momento, é preciso fazer mais de um planejamento. Um é pouco, dois é bom, mas três é melhor ainda. É quem escuta que deve dar a direção de cada aula, porque é para ele que a aula deve fazer sentido". E, como fazia muito sentido tudo o que dizia, o público pediu para ela seguir pelo caminho que tinha tomado e ela continuou.


"Nascemos de duas pessoas e por isso já somos geneticamente sociáveis. Dois já é grupo e nunca vamos existir fora de um. E nascemos de dois que se amaram". Mas a criança não pode ter nascido em um descuido? "Ama-se como pode e como se sabe", responde Madalena. O exemplo que a pedagoga dá tem a ver com o processo de aprendizagem. "A mola desse processo é a afetividade. Só se ensina pelo amor ou pelo ódio, nunca pela indiferença."

Para ela, portanto, um professor nunca pode ser indiferente a seu aluno. É preciso, no mínimo, chamá-lo pelo nome e mostrar que ele existe. Olhar para ele. Prestar atenção nele. "O professor deve reparar no seu aluno. Em seu corpo. Se não tivéssemos um corpo, não haveria a visibilidade da existência. O corpo mostra, retrata a aprendizagem. O corpo é a geografia de nossa história. Olhe o corpo de nossos alunos. Muitos deles corcundas, mal tratados, mal educados. O corpo não mente, minha gente. Temos de observar nossos alunos interpretando, lendo, dando sentido a seus corpos que mostram os conflitos da aprendizagem."

A pedagoga defendeu duas questões no ensinar em sala de aula: a rotina e a tarefa. Segundo Madalena, a rotina é a construção do tempo da aula e "o tempo não caiu do céu. Não é uma dádiva. Ele é construído. É assumido". E a tarefa é fundamental porque "o professor só pode ensinar mediado pela tarefa".

Mas, além do espaço físico da sala, é necessário ter mais duas vontades dentro de si: a resistência e a agressividade. "Quando não aceitamos algo, devemos resistir e não falo de uma resistência omissa. Não se decreta o novo. Se opta pelo novo, quando o velho já não serve mais. Aprender é mudar. Se os alunos estão mudando é porque estão aprendendo", comenta Madalena.

Nesse sentido, a agressividade é importante porque, segundo a pedagoga, "é preciso ter raiva para mudar. É essa raiva saudável que nos empurra para frente. Raiva de mim. Raiva da mesmice que estou. Preciso de agressividade para construir uma rebeldia que calça a autonomia. Ninguém opta de graça. Tem preço. Agressividade não assumida transforma-se em ódio ou em revolta, que não é igual à rebeldia."

Denunciar o indigno. Comprometer-se. Assumir-se. Rebelar-se. Mudar. Aprender com o outro. Palavras e lições de uma aula de Madalena Freire.



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